PODE O CRISTÃO DISCUTIR POLÍTICA? (Pr. Reinaldo Ribeiro)


 

PODE O CRISTÃO DISCUTIR POLÍTICA? (Pr. Reinaldo Ribeiro)

 

Religião e política não se discutem – eu tenho quase que absoluta certeza que em algum momento da vida você já pronunciou ou pelo menos ouviu essa máxima, já quase proverbial entre nós. Talvez este enredo tão obscuro de compreensão de mundo pudesse permanecer intacto sob as trancas tradicionais em que subjazeram por séculos. Mas a alta temperatura da polarização que implodiu relações humanas e segregou nichos ideológicos em meio ao atual cenário brasileiro, simplesmente tornaram impossível manter viva essa concepção. De sorte, que os dias que atendem pelo nome chamado hoje requerem de todos nós cristãos algo que somente as pessoas de caráter e personalidade possuem – posicionamento. É por isso que estamos aqui e nos propomos ao desafio de uma breve reflexão a este respeito. Fique a vontade para vir comigo nesta jornada.

Particularmente, como todo batista de raiz, advogo a ideia de que o Estado deve ser não-confessional. Foi justamente essa percepção por parte de alguns dos primeiros protestantes nos séculos 16 e 17 que deu início à separação entre Igreja e Estado. Com bases teológicas, eles perceberam que a visão cristã do Estado é que o Estado não deve ser ‘cristão’, no sentido de defender e promover uma determinada igreja ou religião. Traduzindo, uma nação deve ser cristã por resultado da obra evangelística e não pela força de uma caneta governamental u de uma toga tresloucada. Tecnicamente, poderíamos chamar isso de Estado Laico.

Entretanto, nossa defesa de que o Estado não pode ser gerido por nenhuma religião específica e nem ter suas leis oriundas de dogmas religiosos, que visa somente proteger a liberdade religiosa e garantir o direito a todas as crenças e ideologias dentro do estado democrático de direito, não dá absolutamente nenhuma legitimidade ao que se poderia chamar de Estado Ateu.

No horizonte social e político brasileiro atual, o que vemos é justamente isso. O ataque, outrora velado ao Cristianismo e seus valores, perderam completamente o pudor, assumiram uma postura agressiva, passaram a valer-se de aliados nos campos culturais, jurídicos, jornalísticos e políticos, acastelados numa conveniente defesa de seus interesses próprios, que vão desde a busca pela libertinagem dissoluta até o mais ambicioso nível da obsessão persecutória pelo poder. Logo, devemos creditar tamanho esforço pela modificação do tradicional quadro de influência judaico-cristã em nossa sociedade a questões puramente ideológicas. É o esforço do neoateísmo para eliminar Deus, a religião cristã ou quaisquer símbolos que os representam na esfera pública. Trata-se, portanto, de um discurso que se converteu em ativismo fundamentalista e que não pode ser simplesmente desconsiderado com indiferença por nós cristãos.

Deus é espírito, mas não é abstrato. Sua forma de agir na Terra se dá a partir de leia e princípios que Ele próprio soberanamente estabeleceu, dentre os quais se destaca o papel da Igreja como Sua voz representativa nesse mundo, sendo a legitima embaixada dos valores do reino. Foi justamente essa a intenção de nosso Senhor ao afirmar que Sua Igreja é sal da terra e luz do mundo. Tal atribuição se torna inócua por meio da omissão. Obviamente, não defendemos aqui nada que sequer se compare a militâncias, ativismos ou vínculos político-partidários. A competência representativa do reino se dá por meio do testemunho cristão, que naturalmente busca justiça e paz neste mundo. Logo, é pecaminosamente incongruente a postura adotada por alguns cristãos de se manterem em silêncio ou se acovardarem de suas responsabilidades cívicas e espirituais, escondendo-se na moita pseudofilosófica de que cristão não discute política.

A ausência de um diálogo profundo de conotação política por parte da Igreja é justamente a razão pela qual constata-se o inacreditável número de cristãos filiados a partidos de esquerda ou que simpatizam com seus discursos e suas figuras representativas. Só há duas razões para justificar o fato de um cristão ser de esquerda: ou ele não entende o que significa ser de esquerda ou não sabe o que significa ser cristão. São duas posições tão irreconciliavelmente antagônicas quanto o céu e o inferno.

Ao contrário do que muitos pensam, esse posicionamento não é meramente político. Ainda que o seja na perspectiva humana, ele se ajusta a um olhar espiritual, que se discerne na palavra profética. Por isso eu afirmo, que todo cristão que lê e entende a Bíblia, jamais pode assumir uma postura de apoio político a partidos de esquerda. Não apenas pelo histórico de tirania totalitária do comunismo, sob o qual milhões de vidas cristãs foram violentamente ceifadas, mas também pela própria perspectiva do que a Palavra de Deus nos adverte. São muitos os exemplos. Eu citaria, porém, apenas o extraordinário capítulo 11 do livro do Profeta Daniel (sugiro ao meu leitor que o leia antes de prosseguir aqui).

No capítulo 11 de Daniel, o Sul simboliza, na tradição bíblica, “o poder humano sem Deus”. O Sul aponta para o Egito (Dn 11:43), especialmente para o orgulhoso faraó: “Quem é o Senhor para que lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor” (Êx 5:2). Uma aliança de Israel com o Egito seria um deslocamento da fé, uma troca de Deus pela humanidade, ou seja, a fé na humanidade substituindo a fé em Deus. Isaías diz: “Ai dos que descem ao Egito em busca de socorro e se estribam em cavalos; que confiam em carros, … mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao Senhor! … Pois os egípcios são homens e não deuses” (Is 31:1-3). Assim, no conflito protagonizado pelo Norte e o Sul, nessa visão de Daniel 11, “o Norte representa o poder religioso” que pretende ocupar o lugar de Deus, o poder do estado perseguidor dos “santos”; e o “Sul representa os esforços humanos que rejeitam Deus e têm fé apenas na humanidade”, ou seja, os poderes seculares fundados nas ideologias ateísticas e materialistas. Nesse caso, as ideologias de esquerda e seus estados socialistas são aqui retratados com a figura do Egito e do Sul. Um apontamento escatológico que se encaixa perfeitamente com o fortalecimento dessa ideologia em nossa geração. 

Portanto, amados eu discuto político, mas não o faço com o fanatismo de um torcedor. Não o faço com a conveniência de um ambicioso que apenas advoga algo que lhe trará benesses eventuais. Não o faço com a motivação do ódio gratuito ou com o sangue separatista no olhar. Eu o faço com um olho na história e outro na Bíblia. Faço porque não estou cego e surdo perante a agenda conspiratória que escava os alicerces do poder legítimo e que odeia a Igreja de Cristo porque a vê aliada do poder legítimo. Não estou cego á imposição de leis que agridem nossos valores, que ameaçam nossas famílias, que planejam botar nossa nação de joelhos, que usam togas como canhões e programas de TV como cartilhas do terror e da depravação. Não estou surdo aos defensores do que contradiz a natureza criada, do estrondo estarrecedor causado por movimentos abjetos, condenados pela Palavra de Deus, mas aplaudidos pelo mundo.

Cegos e surdos estão aqueles que se unem a essa agenda. Quer de forma voluntária e consciência, através do ativismo – quer de forma inconsciente, através da cegueira e da surdes típicas dos que não discutem política!

Deus abençoe o meu Brasil- acima de tudo e de todos!


Pr. Reinaldo Ribeiro

 

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