SATANÁS PODE ENGANAR OS ELEITOS? (Pr. Reinaldo Ribeiro)


PERGUNTA ENVIADA POR EMILIANO SILVA AROUCHE JR (Ananindeua – PA)

Meu estimado Pr. Reinaldo, louvo a Deus por sua vida e seu ministério. Tenho aprendido muito com seu trabalho no mundo digital. Por favor prossiga sendo essa benção para todos nós. Venho hoje pedir sua ajuda para entender quem são esses eleitos que Jesus citou em Mateus 24:24 e se é verdade o que tenho escutado de alguns pregadores que usam esse texto para afirmar que crentes eleitos não perdem a salvação e não podem jamais ser enganados por Satanás. Qual o seu ponto de visto sobre esse assunto? Muito obrigado. 

RESPOSTA

Primeiramente, graça e paz meu querido irmão. Recebo com gratidão e humildade suas palavras gentis. Que o Senhor nos permita ser benção mutuamente e ainda sob nossa total condição de insignificância, sejamos de algum modo úteis para o reino!

Agora vamos à sua pergunta...

“Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos” (Mateus 24:24)

Em primeiro lugar é importante ler cuidadosamente todo o capítulo 24 de Mateus para entendermos quem são estes “eleitos” mencionados pelo Senhor. Muitos irmãos calvinistas tentam relacioná-los à sua doutrina determinista dos chamados predestinados, mas eu particularmente discordo dessa interpretação.

Nessa ocasião a Igreja ainda era um mistério. Somente no Pentecoste ela foi incluída no agir de Deus e, posteriormente, revelada através de Paulo.

O contexto não está falando do arrebatamento, quando Jesus virá para buscar Sua Igreja, mas trata da volta de Jesus em grande poder e glória para Seu povo Israel, após a Grande Tribulação (Mt 24:29-31). Jesus só falou do arrebatamento mais tarde, pouco antes do Getsêmani, como está registrado em João 14. Até então os discípulos, como judeus, só sabiam da era gloriosa do Messias que viria para Israel (por exemplo, Lucas 17:22-37).

Os discípulos a quem Jesus se dirigiu em Mateus 24 e 25 evidentemente eram judeus. Em minha opinião, eles simbolizam o remanescente judeu fiel, que crerá no Messias no tempo da Grande Tribulação. No sermão profético do Senhor Jesus no Monte das Oliveiras, Ele predisse como será a situação dos judeus no período imediatamente anterior à Sua volta. Falsos profetas e falsos cristos, como são chamados em Mateus 24:5,23,26, representam um perigo para Israel. A Igreja enfrenta outros perigos, pois deve preocupar-se mais com falsos mestres, falsos apóstolos e falsos evangelistas e em discernir os espíritos (2 Co 11.13; 2 Pe 2.1; Gl 1.6-9). 

O “abominável da desolação” (Mt 24.15) diz respeito claramente à terra judaica, ao templo judaico e aos sacrifícios judeus. Já o profeta Daniel falou a respeito. E Daniel não falava da Igreja, mas de “teu povo… e de tua santa cidade” (Dn 9.24). A frase: “então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes” (Mt 24.16), é bem clara. Trata-se nitidamente da terra de Israel. Pois no Novo Testamento a Igreja de Jesus nunca é conclamada a fugir para os montes. Igualmente o texto que fala do sábado diz respeito aos judeus, aos seus costumes e suas leis (v. 20). Também a parábola da figueira (v. 32) é uma representação simbólica da nação judaica. Do mesmo modo, a expressão “esta geração” (v. 43) aplica-se a Israel.

Nossos irmãos calvinistas argumentam, com base neste texto, que é impossível enganar os eleitos. Mas não é isso o que o texto diz. O texto não está dizendo “se fosse possível”, e sim “se possível”, no sentido de “se conseguir”. Este é o sentido que permeia todo o Novo Testamento nas ocasiões em que o mesmo termo é empregado em outras passagens.

Atos 20.16, por exemplo, diz: “Paulo tinha decidido não aportar em Éfeso, para não se demorar na província da Ásia, pois estava com pressa de chegar a Jerusalém, se possível antes do dia de Pentecoste” (Atos 20.16)

“Se possível”, logicamente, está no sentido de “se conseguir”. Trata-se de uma possibilidade, e não de uma impossibilidade. Prova disso é que Paulo de fato conseguiu chegar antes do Pentecoste (At 21.17). Como vemos, o mesmo termo é empregado para algo tão possível que, de fato, ocorreu! Outro texto que nos mostra a possibilidade aberta dentro do termo “se possível” é Romanos 12.18, que diz:

“Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Romanos 12.18)

Mais uma vez, vemos que o “se possível” abre uma possibilidade, ao contrário de uma impossibilidade. Se não fosse assim, teríamos que pensar que Paulo estava dizendo que viveríamos inevitavelmente em guerra com todos os homens e que nada poderíamos fazer para mudar isso! Logicamente, o “se possível” abre uma possibilidade no sentido de “se conseguir”. Desta forma, se for possível, temos que viver em paz com todos os homens; se for possível Paulo chegaria antes do Pentecoste, e se for possível o anticristo enganará os eleitos.

 

A Bíblia afirma claramente em 1 Coríntios 10:12: “Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” A possibilidade, portanto, existe: os eleitos podem ser enganados, da mesma forma que Paulo podia chegar em Jerusalém antes do Pentecoste e que nós podemos viver em paz com todos os homens. São casos similares que presumem uma interpretação linear que seja coerente com o todo das Escrituras, que, mais uma vez, demonstram que até mesmo alguns que hoje estão no grupo dos eleitos podem vir a ser enganados pelo anticristo, desviando-se da fé.

Espero ter conseguido lhe ajudar. Forte abraço e que Deus o abençoe sempre.

 

Pr. Reinaldo Ribeiro


 

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